Com população formada por 70% de negros, segundo o IBGE, e dez comunidades já certificadas como remanescentes de quilombos pela Fundação Palmares, o município de Bequimão, localizado a 54 km de São Luís, tem o desafio de avançar em políticas educacionais que abordem e valorizem a identidade desses povos.
No último sábado (13), foi dado mais um passo nesse sentido. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) – Campus Maracanã iniciou o Curso de Formação de Professoras e Professores em Educação Escolar Quilombola, oferecido para profissionais da educação do município e representantes de movimentos sociais do local. A Prefeitura de Bequimão, por meio da Secretaria Municipal de Educação, é parceria desse projeto de formação continuada.
Serão 200 horas de capacitação, com o propósito de melhorar a atuação junto aos estudantes de escolas que ficam em comunidades quilombolas e daquelas que recebem alunos de quilombos. Para o coordenador do curso, Dorival dos Santos, a discussão de temáticas étnico-raciais na escola é uma maneira de garantir direitos já conquistados, muitos deles em risco.
“Muitos estudantes negros, ao manifestarem suas práticas, são repudiados dentro da própria escola. É preciso que os profissionais da educação aceitem e dialoguem com esses alunos e com a comunidade. Neste curso, vamos construir conhecimentos que instrumentalizem essas comunidades para a resistência e para fazerem um embate diante de seus opressores”, afirmou o coordenador.
Ao representar o Núcleo de Estudos Afrobrasileiros e Indiodescendentes (Neabi) do IFMA, o professor Hérliton Rodrigues Nunes também defendeu a formação de professores como caminho para a inclusão de grupos mais oprimidos. “O Neabi está junto com a Direção Geral do Campus Maracanã colaborando no processo de qualificação docente, para que algumas coisas relacionadas à questão étnico-raciais sejam mais bem distinguidas”, destacou o professor. Ele e a professora Ana Maria Ramos ministraram a primeira disciplina às duas turmas formadas.
Entre os alunos do curso estão professores, técnicos administrativos e gestores do setor educacional. Esse é o caso da secretária adjunta de Educação, Maria de Jesus Nogueira. Ela considera que uma nova realidade está surgindo em Bequimão, a partir de ações que contribuem para aprimorar o desempenho dos professores. “Já temos no nosso município cursos de graduação, cursos profissionalizantes e de formação continuada, como este. Isso vai dar um salto em termos de conhecimentos que possam melhorar nossos indicadores educacionais”, disse.
Parceria
Quando o IFMA – Campus Maracanã submeteu o projeto do Curso de Formação de Professoras e Professores em Educação Escolar Quilombola à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (Secadi), do Ministério da Educação, buscou a parceria da Prefeitura Municipal de Bequimão. As informações que os pesquisadores do IFMA já dispunham sobre a existência de comunidades quilombolas certificadas e outras reconhecidas credenciavam o município para o projeto.
O prefeito Antônio José Martins prontamente aceitou a parceria, encaminhando ofício à instituição. Essa trajetória foi relembrada pela diretora geral do Campus Maracanã, Lucimeire Amorim Castro, durante a aula inaugural realizada no sábado (13). “Nesse curso, vocês terão acesso a outras dimensões da educação, discutindo sobre identidade, sobre o que é ser quilombola. Queremos que essa experiência em Bequimão seja um sucesso, para que possamos levá-la a outros municípios do Maranhão”, ressaltou Lucimeire.
Também participaram da aula inaugural a representante da Coordenação de Projetos do Campus Maracanã, Conceição de Maria Teixeira Gomes, e o vereador Doutor. Em seguida, a diretora geral reuniu-se com o prefeito de Bequimão, que assegurou apoio ao curso, inclusive fornecendo almoço aos sábados, quando as aulas acontecem durante todo o dia. Até dezembro, os alunos assistirão a aulas também aos domingos pela manhã.